- Emiliano Amarante
- janeiro 7, 2024
- 11:38 am
Há pelo menos uma década, qualquer pessoa independente da área de atuação pode se recordar de ter visto em algum lugar, por meio de reportagem, artigo ou aula sobre a alta demanda por profissionais da área de tecnologia. De fato, até meados do ano passado as tendências indicavam uma crescente necessidade por tais perfis profissionais.
Sabemos que a tecnologia desempenha atualmente um papel crucial em vários setores, para não dizer praticamente quase todos. Porém, a ideia deste artigo é compartilhar algumas reflexões que possam ser úteis tanto para outros profissionais de tecnologia quanto para empresas e entusiastas que desejam adquirir serviços ou iniciar o desenvolvimento de software e/ou hardware.
Muitos dos conteúdos que vemos hoje em dia, sejam postagens ou até mesmo vídeos, em sua maioria impulsionam o aprendizado técnico, uso de linguagens de programação, lógica, bibliotecas, frameworks, etc. E com certeza, são conteúdos válidos e importantes, mas talvez você já tenha parado para pensar o quanto de software e hardware já existem disponíveis no mercado? Muitos desses, semelhantes e destinados a resolver os mesmos “problemas”? Em alguns casos, isso acontece porque as pessoas envolvidas, sejam elas desenvolvedoras ou não, acabam dedicando mais tempo na solução. Comparam produtos e buscam fazer algo com “diferencial” que muitas vezes se destaca à tecnologia, a linguagem ou o layout de front-end, por exemplo. Na verdade, são aspectos também importantes e que entregam valor ao produto. Porém, destaco aqui 5 fatores-chaves antes de iniciar o desenvolvimento de software e/ou hardware, incluindo até mesmo gastar o seu tempo aprendendo novas tecnologias ou escrevendo códigos que podem vir a ser desnecessários:
1. Conhecer o problema em profundidade
Já existem dezenas de conteúdos que destacam essa questão, especialmente a afirmação que muitos já ouviram: “Apaixone-se pelo problema!”. O que trago aqui é sim, um reforço da mesma ideia. Quando tive contato pela primeira vez com os conceitos de Lean Startup a partir das contribuições do Eric Ries, Ash Maurya e outros, incluindo recentemente com o Uri Levine, cofundador do Waze na primeira edição de seu livro “Apaixone-se pelo problema e não pela solução”, confesso que ainda não me estava tão claro o quanto crucial era a ideia de aprofundar-se no problema que se está tentando resolver.
Tal questão, envolve desde o tamanho de mercado em que o problema está inserido até uma imersão total na realidade do potencial cliente que sente a dor. Esse é um requisito chave fundamental. Pois envolve a relação entre pessoas, culturas, necessidade de aprender a conviver e falar. É importante até mesmo para os desenvolvedores apaixonados pela tecnologia, pois com os rápidos avanços em áreas como a IA, talvez muito do que você está estudando hoje vai ser feito por uma inteligência artificial daqui algum tempo.
Se você realmente se dedicar a refletir e se aprofundar em conhecer o processo no qual parece ser necessário desenvolver um software, hardware ou ambos, poderá concluir que uma grande parte não faz nenhum sentido algum, por uma série de motivos, e, entretanto, vai poupar o tempo técnico, dinheiro e futuras decepções.
Apaixonar-se pelo problema é totalmente diferente de empolgar-se em resolver o problema já pensando com a cabeça de desenvolvedor. O fato de conseguir imaginar um protótipo funcionando, não necessariamente vai ser a solução adquirida pelo potencial cliente, a menos que você faça uma imersão na realidade cotidiana dele, conheça um pouco de seus hábitos e com isso, tendo um potencial de extrair uma intenção sobre os impactos de uma real solução para o problema.
As vezes, um problema existe e o cliente nem sabe, outras vezes, o problema existe mas não há interesse numa solução. Podem ter casos também em que o problema nem existe, mas há uma crença sobre sua existência que movimenta um grande mercado de pseudo-soluções. De toda forma, o mais oportuno são problemas que existem e clientes que buscam a solução.
Poderia continuar a escrever mais parágrafos sobre esse ponto chave, mas podemos ficar por aqui considerando que o tema do problema é multivariado, envolvendo além da tecnologia, principalmente aspectos filosóficos, culturais, crenças, personalidades, política, religião e ciência.
Enfim, esse ponto-chave requer muito mais reflexão e imersão do que parece, e, espero que você tenha compreendido um pouco mais sobre isso ou ainda se alegrado por já ter tais experiências sobre esse tema.
2. Perfil do usuário
Priorize as necessidades do usuário, desde levantamento de informações sobre o mercado e análise comportamental do seu público-alvo. Se o seu software/hardware é para um pub, o seu “cliente” será o atendente que vai operar a solução todos os dias. Se você não fizer algo que esteja alinhado com o processo real, cedo ou tarde, ele vai pedir ao dono que troque de solução. A grande questão aqui é encontrar um alinhamento entre pessoa e processo. E o desejo, é encaixar o processo correto com as pessoas certas.
3. Objetivos claros
Defina objetivos específicos e mensuráveis para o projeto. Construa um roteiro baseado no MVP, evitando o aumento de escopo e fornecendo uma direção clara para a equipe de desenvolvimento. Em todo desenvolvimento de software e/ou hardware, a chave aqui é evitar a empolgação para não perder o controle sobre o entregável que está alinhando com o MVP.
4. Protótipo iterativo
Priorize que o protótipo esteja sendo validado com as funcionalidades cruciais. Libere releases para que o próprio cliente possa fornecer feedbacks e identificar possíveis melhorias, garantindo que o produto atenda às expectativas. A chave aqui quer dizer que essa abordagem cria um laço de confiança com o cliente, que é, inexoravelmente, parte não-linear da solução. Antes de iniciar o desenvolvimento, recorde que entre a concepção e a materialização da solução serão inúmeras iterações, e a maioria delas virá da experiência do usuário.
5. Potencialidades humanas
“Os clientes não compram produtos ou serviços. Eles pagam pela solução de seus problemas”. Essa é uma daquelas frases clichê que ouvimos em muitos eventos de inovação e empreendedorismo. Tal afirmação, é frequentemente atribuída a Theodore Levitt, um economista e professor norte-americano, que lecionou na Harvard Business School. Levitt é bastante reconhecido por suas contribuições para o campo do marketing. Porém, o que podemos extrair dessa afirmação, é que ao invés de se dedicar muito tempo em aprender somente habilidades técnicas e expor seus certificados nas redes sociais, é necessário e fundamental também, almejar o desenvolvimento de potencialidades humanas. A criatividade, por exemplo, te leva a uma ampla capacidade de resolver problemas. Uma vez treinado o potencial de reflexão, poderá especificar melhor como as pessoas interagem com diferentes processos, tornando capaz de aprender qualquer coisa que possa ser utilizada para implementar um meio pelo qual um processo será automatizado. Por fim, o potencial de observar permite conhecer as regras comuns a frameworks, bibliotecas e linguagens de programação, te levando a escrever códigos cada vez melhores.
Fico por aqui. Espero que tenha se identificado com alguns aspectos do texto e, principalmente que te inspire a explorar e contribuir mais com o tema. Ao longo de pouco mais de 15 anos de atuação em tecnologia, tenho percebido que tanto empresas quanto clientes buscam pessoas com habilidade de se comunicar, trabalhar com uma equipe e interagir com diferentes personalidades, resultando em desenvolvimento tanto de software quanto hardware de qualidade, além de possibilitar um encaixe mais adequado a realidade do problema.
Um abraço e até a próxima!
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Engenheiro de Computação (2010), com mestrado em Eng. Elétrica (2013) na área de instrumentação e biomédica, atua desde 2007 com desenvolvimento de software e hardware, processamento de sinais e instrumentação eletrônica. É também professor de nível técnico e superior desde 2008. Um profissional dedicado e entusiasmado com inovação, ciência e integração sw-hw. Tem como hobby estudar, praticar cross-training, apreciar música clássica e filosofia, estudar mitologia, programação e ensino sobre integração SW-HW para jovens entusiastas.